19/01/2015

Apanhador de memórias

Quando penso no tempo enorme,
Que consome cada gota de mim,
Espero que em você não se forme,
O início de um breve fim.
Penso em como as pessoas se cruzam,
E como podem prever as ações,
De como se amam se usam,
Mas se esquecem por diversas razões.

As vezes o tempo parecia um segundo,
Tão passageiro, tão intenso, tão só,
Outras horas era um congelado mundo,
Bonito, intenso, mas pó.

O vento bateu e levou embora os dias,
Me lembro de contar as semanas após,
Não me vi envolver em boas companhias,
Falava somente e comigo mesmo, a sós.

Lembro de quando, pelas madrugadas,
Dizia coisas tolas pra você sorrir,
Me lembro das horas de sono sagradas,
Que mesmo sem querer deixei de dormir.

As vezes me olho no espelho e reclamo,
Há tanto disso, por todos os lugares,
Não há razão, mas teu nome chamo,
Meus apelos e dúvidas se vão pelos ares.

Olho pra frente, procuro aquela luzinha,
Aquela que tanto dizem haver,
Mas é tão estanho não te ver sozinha,
A distância mais me faz te querer.
Sonhos frequentes, negar seria errado,
Talvez eu não seja o cara que parecia,
Mas parece que você superou o passado,
Livre, leve e solta, que ironia.

Talvez tenha que tomar alguma coragem,
Por míseros segundos, instantes,
Dizer que não queria estar de passagem,
Queria que tudo fosse como antes.

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O que é o poeta sem inspiração? Talvez um apanhador de memórias.

16/01/2015

Carta aberta sobre a semana

Um texto meu que foge da proposta do blog, mas que mostra minha indignação com determinada situação:


É inacreditável como um corte de cabelo consegue causar tanto alvoroço em uma semana de uso:  você não só precisa aprender a lidar com o novo comprimento como também precisa aprender a lidar com as pessoas. O que percebi foi a facilidade que o ser humano tem em julgar os outros por suas próprias escolhas.
 Estamos no século XXI, a era da informação e da diversidade, e mesmo assim ainda tem gente que fica "em choque" ao encontrar mulheres com o cabelo curto como o meu. Gente que tem a mesma visão que se tinha no início dos anos 20, quando o cabelo curto foi incorporado por mulheres, de que não se passa de um 'atentado aos bons costumes'. Foram pessoas assim, com isto em mente, que se sentiram em liberdade para julgar minha opção sexual pelo meu corte de cabelo. Mais irônico do que isso é que quem começou foi uma mulher.
 Eu não condeno ninguém por se expressar, a liberdade de expressão é uma dádiva, o grande problema é quando ela passa a ser usada no pejorativo, para insultar as pessoas. Não disse em momento algum que vejo problema em ser homossexual, muito pelo contrário, não cabe a mim julgar a opção sexual do outro. Mas o que realmente me incomodou foi ver pessoas que conviviam comigo diariamente apresentarem uma enorme tendência à homofobia.
 A minha orientação sexual, julgada erroneamente pelo meu cabelo, não interfere em nenhuma vida sem ser na minha. Então peço, com toda educação, que parem de achar que sabem mais dos outros do que eles mesmo.
 Qualquer tipo de preconceito merece tolerância zero, não é a toa que isso crime. Fica a dica pra você que depois de falar diz que "foi só brincadeira".